Desafios e aprendizagens...

A meio da consulta do 1º mês com o pediatra ele pergunta: ´Já foram ao cinema?´
Fiquei confusa. Pensei que tínhamos algum filme com bebés marcado e eu me tivesse esquecido. Mas claro, não era nada disso. O que o pediatra perguntava era se os pais já tinham ido ao cinema. 'Aaaah, não, claro que não! Porquê que havíamos de ir ao cinema?'
Lançou-nos então o desafio, como se fosse uma taça que realmente precisássemos de alcançar. Ficou escrito em papel - "1 gota de vigantol por dia, ir ao cinema". Questionei porquê e explicou-nos que era importante, agora que tinha passado um mês, que a mãe (que no caso desta consulta era eu, mas seria aplicado a todas) começasse a experimentar desprender-se da 'cria' e iniciasse programas pessoais e a investir no casal. À saída insistiu com o pai 'não se esqueçam de namorar!'
Do confusa passei para o incrédula e um pouco irritada. Mas se nem tinha 'perdido tempo' a perceber realmente como tinha corrido o nosso primeiro mês. Não reparou que tínhamos tido um mês muito sossegado, que tínhamos jantado quase sempre à mesa, uma vez com velas e tudo! Que vimos vários filmes e a temporada toda de The House of Cards! Que demos caminhadas, que arrisquei ir a uma conferência sobre uma escola na floresta com uma bebé de 15 dias... enfim, que apesar de totalmente mergulhados na paternidade, não nos tínhamos esquecido de nós.
A verdade é que fiquei a pensar naquilo. Por um lado irritava-me a pressa que o mundo tem em separar os bebés das mães. Por outro lado comecei a questionar se não seria apenas eu a arranjar desculpas por, no fundo, não ser capaz de a deixar...
A questão repousou durante um mês... Quando tinham passado dois, comecei a deixar a bebé com o pai para correr. Retomar as corridas passados 9 meses foi muito bom!
Depois fomos os dois fazer yoga - também foi giro voltar às nossas aulas, agora sem uma barriga enorme!
Mas tudo isto eram intervalos muito curtos, então achei que talvez conseguisse ir a um curso de meditação por 4 horas. Passei o dia em conversações com a bomba de tirar leite, consegui tirar um fundinho de biberon que me fizer questionar se o problema seria meu ou dela. Lá deixei o pai com a criança e a coisa até correu bem para o lados deles porque não houve dramas, mas eu, além de exausta com a luta com a bomba, não me consegui focar minimamente. E aí decidi que nunca mais iria fazer algo que não fosse natural, nem nunca me iria propor a um desafio que não nascesse da minha vontade.
Se sou mãe de um bebé de 2 meses que estou a amamentar (e mesmo que não estivesse!), o natural é que ele esteja comigo, sempre!
Se eu vou, o bebé também vai! Se não pode ir, se calhar é porque não é suposto eu própria ir. Com sorte não será mesmo obrigatório que o faça!
Ainda fui mais umas vezes à meditação, mas acompanhada! A bebé dormiu o tempo todo. Eu consegui concentrar-me e retirar muito mais, sabendo que estava comigo e bem.
Pus de lado os conselhos dos outros, pediatras ou não. Sou eu e o teu pai quem sabe o que é melhor para o nosso bebé. E para nós.
Quando os outros se calam, ouvimos a nossa própria voz.
Ser mãe e ser pai não é muito mais do que isso.

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