"We have a secret in our culture and it's not that birth is painful.It's that women are strong"


Sento-me pela primeira vez para escrever sobre esta gravidez.
Fui ouvindo desde cedo incentivos para ir escrevendo no blog mas na verdade, o tempo foi passando e a vontade maior foi sempre viver e absorver para mim (e com o pai), tudo o que ía acontecendo...



Percebi que estava grávida depois de voltarmos de Bali. Um cansaço extremo e má disposição que inicialmente associei ao jet lag mas que se veio a revelar algo que já havíamos decidido mas que nenhum dos dois esperava que acontecesse tão rápido. 
Fiquei desde logo fascinada com as transformações que iam acontecendo: os sentidos apurados, o corpo a rejeitar o que faz mal, uma vontade instintiva de me cuidar e proteger um grãozinho que era ainda tão pequeno.
Troquei as corridas por caminhadas e yoga e fui aproveitando esses momentos ao longo de toda a gravidez para ir conversando comigo e com este bebé que ía crescendo. 
Senti-me desde o início a viver algo sagrado, superior e fui saboreando todas as coisas incríveis a que as mulheres têm direito por gerarem e carregarem uma vida.

Fui ouvindo com curiosidade conhecidas e desconhecidas acerca das suas gravidezes e estranhei quando me falavam da tormenta que era passar 9 meses assim, que eu iria perceber isso mal a barriga começasse a ficar maior. Ouvia sobretudo preocupações com as transformações do corpo e o aumento do peso, sobre as dores e limitações. Os relatos sobre os partos, demasiadas vezes por cesariana, demasiadas vezes programados, demasiadas vezes envoltos em medos e relatos sobre dor. Quase todas as vezes ouvia calada.

Passou ainda algum tempo até encontrar as primeiras pessoas a falarem-me da gravidez e do parto com um sorriso mágico nos lábios. A essas fiz muitas perguntas e ouvi com atenção. Partilhei vivências, pormenores grandes e pequenos e sorri também, muito, por me sentir afortunada. 

Encontrei um livro que recomendo a toda a gente, grávidas ou não, que influenciou toda a minha gravidez.
Procurei exemplos de outras mães e projectos com os quais me identifico - Ovo, Na minha merceariaBioNascimento. Entrei em contacto com algumas delas.
Vi vários filmes e documentários que me fizeram refletir e que por vezes me deixaram ansiosa por ver como os hospitais por cá estão tão distantes dos nascimentos como eles eram e como deveriam ser.

Questionei porque não existem mais redes entre mulheres que vão ou já têm filhos, tal como já existem noutros países. Redes onde o foco principal seja informar e aumentar a confiança das futuras mães. Fazê-las acreditar no mais importante - que têm em si tudo o que precisam para gerar, dar à luz, amamentar ou criar uma criança.  
Questionei porque há tanta gente a planear casamentos durante meses a fio indo a todos os pormenores e detalhes e, no que toca aos nascimentos, não se fazem perguntas, não se exploram alternativas... Os futuros pais Limitam-se a pôr todas as decisões nas mãos dos médicos sem perguntar porquê - porquê que é marcada uma data, porquê que é induzido um parto, porque são administradas drogas para que o parto se desenrole de forma mais rápida, porque nos dizem que temos que ficar deitadas numa cama como se estivéssemos incapacitadas. Porque prevalece tanto o discurso do medo e da dor. Porque não se ouve falar de todas as outras coisas que acontecem num momento tão importante.

Na recta final da gravidez, sinto que abri muitas janelas de perguntas. Que ainda não tenho todas as respostas. O parto será num hospital e não em casa, como gostávamos que fosse. Ainda assim, temos assentes várias coisas que queremos ver respeitadas, temos falado muito com médicos e enfermeiros e faremos tudo para que, mesmo num hospital, o parto seja nosso. E que este bebé nasça da mesma forma como foi crescendo ao longo destes meses - de forma tranquila, confiante, sem complicações, sem procedimentos médicos desnecessários. Com pele, com dor e lágrimas mas também com sorrisos e olhares cúmplices. Com tempo. Com calma. Com amor.







"woman body as a garden is the gate to the dimensions of magic. it creates life through the sacred affair of the heart and the womb. it is the realm of the cosmic divine."

Imagem retirada daqui

Sem comentários: