Imaginei-me a ter criatividade a sair-me dos dedos e momentos serenos durante as tuas sestas.
Imaginei-me a escrever para ti ou sobre ti, como fiz nos teus primeiros meses.
Sempre ouvi dizer que nos primeiros filhos se faz tudo - compra-se tudo novo, registam-se todos os momentos, assinalam-se datas para mais tarde poder dizer 'começaste a andar aos 11 meses', a tua primeira palavra foi 'óu-á'.
Nada disto tem acontecido.
O tempo passa, tão sorrateiramente e tão preenchido. Tudo o que estamos a viver é sempre tão cheio... Se calhar daqui a uns anos já não vou recordar como és destemida e gostas de trepar escadas, escadotes, mesinhas de cabeceira ou tudo o que te pareça levar para uma nova aventura. Ou como adoras estar na montra do meu trabalho a dizer olá a todas as pessoas que passam. Ou como mandas beijinhos e dizes 'au' a toda a gente, mesmo que ninguém te peça. Como danças desajeitadamente com um sorriso feliz ou como nos surges pela casa com um tambor na mão para te acompanharmos.
Como nos pegas pelo dedo para nos levares onde queres e aí chegados nos puxas até ao chão para ficarmos ali contigo. Como acordas depois de uma noite em que despertaste umas 6 vezes e nos começas a dar beijinhos no escuro. Como comes com a tua mão desde os 6 e queres agora comer com colher sem ajuda de ninguém. Como adoras ir à rua, ao parque andar de 'dlim-dlão', ao palácio ver pavões e galinhas. Como ficas delirante quando vês o pai partir de mota e começas a apontar para irmos atrás dele. Como gostas de entrar nas brincadeiras dos meninos grandes e nas traquinices do mano.
Quero contar-te tudo isso quando cresceres. Quero que saibas como renasci e descobri tanto de mim  quando fui mãe. Quero que saibas como me esforcei todos os dias para que, apesar de ter um emprego, chegar ao fim de cada dia a sentir que o principal, em quantidade e em qualidade, tinhas sido tu. Quero lutar para que os senhores que governam o nosso país, percebam a importância da presença da mãe e do pai na vida das crianças, principalmente das crianças pequeninas como tu ainda és, para que no dia em que tu tenhas bebés, não tenhas que ser obrigada a separares-te do papel que mais queres desempenhar.
Se calhar daqui a uns anos já não me vou lembrar das caras que fazias quando te perguntávamos onde está o nariz, a boca e os olhos. Quando me roubavas os cremes e uma fralda das tuas para ires tentar pôr a fralda a um cão de peluche. Nem quando nos tentavas entregar alguma coisa e dizias 'dáaaaa'. Ou das lutas desesperantes para te sentar na cadeirinha do carro, te pôr uma babete ou um chapéu na cabeça. Das vezes em que nos cuspiste sopa na cara toda contente ou do estado em que ficou o nosso tapete da sala de jantar.
Não tive tempo para escrever. Não tive tempo para parar.
Estive a fazer malabarismos para que ter-te comigo e poder levar-te a passear ao parque fosse sempre o principal.

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