Um ano mágico

2015 passou sem me deixar tempo para escrever sobre ele, de uma ponta à outra. 
Sem me deixar respirar sobre tudo o que aconteceu.

Comecei o ano com muita calma, sem relógios nem agendas. Tudo ao ritmo de uma barriga grande, redonda e feliz. 
Nasci como mãe quando a Ema veio ao mundo. Percebi depois que aconteceu mais do que isso. Percebi que já era mãe, mas que ainda não tinha encontrado a forma de concretizar essa parte de mim. E percebi finalmente que o que torna as mulheres distintas não são fraquezas, como às vezes nos fazem acreditar, mas forças, que mantêm o mundo, as casas, as famílias, existirem ao longo dos tempos.
Planeei ficar 6 meses em casa e aproveitar a ocasião para melhorar algo que não gosto em mim - ter dificuldade em parar, andar sempre a correr, pensar demasiado no que vem a seguir.
Os 6 meses encurtaram quando um amigo me propôs abrir uma guest house com ele. Disse que sim à primeira, o projecto era demasiado bom para a resposta ser outra.
Mudamos as licenças do avesso e o pai transformou-se no pilar para que tudo acontecesse como desejávamos - dar uma mão quando era preciso no trabalho, fazer um ou outro check-in à meia noite quando eu já quase não conseguia manter os olhos abertos, permitir-me ter a Ema sempre perto de mim enquanto trabalhava para conseguir amamentar até aos 6 meses, a meta a que nos tinha proposto. 
Comecei a trabalhar a achar, lá no fundo, que tinha um sócio doido por ter confiado em mim. Voltar a ritmos de trabalho, conversas de adultos, horários estabelecidos, tão pouco tempo depois de ser mãe é numa altura em que a bebe decidiu que afinal queria acordar várias vezes por noite, foi uma aventura. 
Passei o verão dividida. Tudo o que eu podia desejar profissionalmente estava a acontecer, mas queria ter passado os primeiros meses da vida do meu primeiro bebe de forma mais calma. Quis que o pai ficasse de licença para me ajudar, mas no fundo queria era estar no lugar dele e poder estar com a bebé o tempo todo, com toda a disponibilidade.
O verão voou, tivemos muito trabalho, com dias de cansaço extremo. No final, tudo correu bem. 
Não houve férias nem viagens, mas uns dias na Costa Nova souberam ainda melhor por terem sido aproveitados ao máximo, com passeios pela praia, mergulhos, petiscos e corridas ao final do dia.
Os 6 meses de amamentação passaram e estamos quase a chegar aos 12.
Fiz as pazes com tudo. Percebi que apesar de ter tido que mergulhar no trabalho antes do que estaria preparada, fi-lo por um projecto que me inspira todos os dias, que é um reflexo do que sou, e que me dá o privilégio de juntar trabalho e família sem muitas complicações. Percebi que o pai fez o melhor durante a licença, muitas vezes diferente do que eu faria, mas nunca pior, e que com esses meses eles tiveram uma oportunidade impagável de se conhecerem e de criarem uma relação cheia de cumplicidades. 
Senti na pele o desafiante que é para um casal ter um filho. Senti pura inveja muitas vezes por não conseguir ausentar-me como um pai pode, dormir descansado como um pai consegue, ir sair com amigas sem pensar em mais nada. Deixei explodir isso algumas vezes, como se ele tivesse culpa dos bebés dependerem tanto das mães. Como se não tivesse sido opção minha continuar a amamentar. Fiz as pazes com as tamanhas exigências da maternidade e fortalecemos a noção que tínhamos de 'casal'. Sinto, todos os dias, que tenho comigo o melhor companheiro e o pai mais dedicado que conheço.
Perguntei muitas vezes 'onde estavam as outras mães', senti muitas vezes que me tinha deslocado em relação a amizades antigas e que a maternidade era um lugar um pouco solitário. 
Fomos a um casamento bonito no final do verão e, do nada, conheci pessoas que me fizeram sentir que as conhecia desde sempre. Daí fui ter a outras mães incríveis, cheias de orgulho e amor, completamente rendidas a esta aventura e começamos algo muito bonito e que já ansiava desde grávida - grupos de mães e mulheres que se ajudam entre si, onde nos sentimos seguras para partilhar, para aprender umas com as outras, para crescer, para dançar, para nos nutrir. 
Passei a frequentar um sítio que sinto como casa, onde tive a oportunidade de conhecer outras mulheres e que me ajudou a despertar para o sagrado feminino.
Voltei a correr uma meia maratona com o melhor tempo de sempre.
Consegui dormir durante o dia uma dúzia de vezes, o que é outro record de louvar.
Consegui sobreviver sem dormir uma noite decente nos últimos 6 meses sem provocar estragos de maior.
Tenho mais facilidade em parar, porque é fácil render-me ao que é ver um bebé a crescer e a explorar o mundo.
Continuo a correr e a sentir o tempo a voar, mas passou a fazer todo o sentido. Agora sei para o que corro e o tempo ganhou outra dimensão. 
Olhando para trás, 2015 foi sem dúvida o ano mais transformador. 
Estou grata, muito, por tudo o que veio até mim e com muita força para continuar fazer tudo acontecer.

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