Onde estão as outras mães?

Minha querida bebé,
comecei a escrever quando passavam uns dias dos teus 4 meses e num abrir e piscar de olhos estamos quase a chegar aos 5.
Parece ter passado num instante mas tu não desperdiçaste esse tempo e em duas semanas aprendeste a fazer uma imensidão de coisas. Já rebolas no chão, já te queres levantar e seguras-te como se fosses um bebé grande. Já consigo carregar-te ao colo só com um braço enquanto tu vais atenta pelo caminho a observar tudo o que acontece. Perdes-te em sorrisos
com qualquer pessoa que fale contigo o que faz as delícias de qualquer um.
Odeias estar deitada.
Deixaste de dormir a noite quase toda seguida. O pediatra diz-me que aos 4 meses os padrões de sono mudam e que tu te habituaste a adormecer com mama e eu pergunto-me porque não me avisou disto antes. Talvez fizesse alguma coisa de forma diferente. Talvez tivesse aproveitado para dormir mais.
Continuo a amamentar. Há dias em que parece mesmo ser a única coisa que faço. Há quem pergunte com admiração 'mas isto tudo é só peito?' enquanto se riem com todas as tuas regueifas e dobrinhas. A tia Ana chama-te 'gordinha gostosa'. Os desconhecidos babam-se, perguntam o teu nome, quantos meses tens e dizem que pareces um bebé 'daqueles de catálogo'. Eu, babo-me timidamente.
Apetece-me dar-te trincas e beliscões a toda a hora.
Assusto-me todos os dias com este amor novo, que me faz rasgar todos os limites que conhecia.
Começo a sentir-me cansada. Por dormir muito pouco. Por ter começado a trabalhar e continuar a conjugar tudo.
Começo a sentir saudades de coisas que fazia e que era antes de tu existires. De poder ir à praia e estar o dia todo esticada ao sol. De poder fazer o que bem me apetece. De fazer uma refeição do início ao fim sem ter que deixar a comida a meio porque começaste a chorar. De beber uns copos de vinho e ir dançar pela noite dentro com o pai.
Converso comigo própria e digo-me que apesar de confuso é normal sentir tudo isto ao mesmo tempo, mesmo quando é contraditório.
Procuro diariamente reinventar-me. Encontrar facetas de mim que possam existir neste novo 'eu'.
Energias que sempre existiram e em que vejo agora o momento para crescerem.
E aceitar com um sorriso todos os pensamentos saudosistas em que volto a ser só eu sem mais responsabilidades.
Sinto falta de ter mães à minha volta. Muita falta.
Falta de partilhar todas estas coisas que andam cá dentro.
Onde andarão as outras mães?

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