Abril

Abril foi o mês em que 'família' tomou outro significado. Foi o mês em que percebemos o que nunca perderíamos tempo sequer a pensar, de tão certa e sólida parecia a palavra. família. Afinal não era. Ou era, já nem sei. Virou-se a palavra de pernas para o ar. Trocou-se as letras. Misturou-se tudo. Procuraram-se novas combinações que fizessem sentido. fimalia-faliama-famiala-lamifia. Descobriram-se algumas coisas novas, fortaleceram-se laços que tinham adormecido, criaram-se outros novos. Revisitaram-se os ditados que dizem que só se dá valor ao que não se tem. Deixaram-se cair lágrimas e tentaram-se truques de circo para que doesse menos a quem gostamos. Apagaram-se fogos e aprendeu-se a viver assim. Com menos um, que não morreu mas decidiu que queria continuar mas fora. Dentro de algumas letras da palavra, fora de outras. O corpo ajustou-se à crise, claro está. Se ninguém morreu e se há tanta gente que passa por pior e se 'a vida tem que andar para a frente' (seja lá o que isso for), como não havia de se ajustar? O coração, esse, arrepende-se de não ter estado mais perto. De não ter encontrado formas de dizer 'gosto muito de ti'. Sem ser preciso mostrar, sabes? Dizer mesmo, com a boca. O coração também se vai ajustando e crescendo e aprendendo e percebendo as lições. Molda-se e cresce o tamanho preciso para poderes voltar, se quiseres. 
Abril foi o mês em que a bomba caiu. E aconteceram tantas coisas para além disso e tão boas. Mas será sempre o mês em que 'família' caiu e se partiu em pedaços como uma caixa de porcelana fina. 
Estamos ainda a tentar juntá-los.

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