[Amamentar: Criar ao peito; aleitar; dar de mamar a. Nutrir; alimentar]

Antes de estar grávida nunca tinha pensado muito no assunto, mas ao longo da gravidez percebi que iria querer amamentar.
Procurei toda a informação necessária, afastei os mitos que continuam a ter tanto peso -  não, não há leites fracos, nem há mães que não produzam leite..., enchi-me de uma confiança serena e solicitei as enfermeiras do hospital vezes sem fim. Pensei - "já que tenho que estar 4 dias no hospital pelo menos vou fazer isto render e usufruir da ajuda constante de profissionais especializados".
Dizia confiante que o objectivo era amamentar até aos 6 meses, mas sem saber o que nos iria esperar. Sem saber por exemplo que a licença de maternidade iria ser vivida de forma corrida, já que com a bebé ainda muito pequenina um projecto profissional novo se atravessou à nossa frente.

Os meses passaram e aqui estamos, prestes a chegar aos 6 meses de amamentação exclusiva.
Olhando para trás, vejo dias de perfeito malabarismo, momentos de muito cansaço, encontros aborrecidos com a bomba que continua a ser um objecto com que não simpatizo, mas acima de tudo incontáveis momentos de puro deleite entre as duas, muitas ocasiões em que ter o leite ali prontinho e à mão se mostrou o esquema mais prático e a sensação incrível de fazer o que é mais orgânico e natural - alimentar e fazer crescer um filho com o nosso próprio corpo.
Ao longo destes meses ouvi inúmeras vezes pessoas a dizer-me que 'se tivesse sorte iria ter leite', a perguntar-me porque estava a dar de mamar outra vez quando o tinha acabado de fazer há uma hora atrás, que se calhar estava a ficar com pouco leite porque não se via nada a sair, para ter cuidado que a menina ía ficar com o vício da mama, que não a devia deixar adormecer a mamar porque senão não ía conseguir dormir de outra forma... Agora que se aproxima a altura de acrescentar outros alimentos ao cardápio, o discurso adapta-se. Dizem agora que é altura de deixar a mama porque o leite da mãe já não alimenta nada, porque é preciso habituar a menina a comer a papa e porque se ela continua apegada vai ser como aquelas crianças que ainda são grandes e andam atrás da mama da mãe.
Tristemente, estas vozes são sempre de mulheres.
Deixam-me realmente triste, não por mim, porque a mim não me convencem, mas por elas. Pela tamanha falta de informação. Gostava de ter podido estar lá, ao lado delas, há 1 ano, há 30 ou há 60, porque as vozes têm idades diferentes, e dizer-lhes que não é bem assim. Que salvo raras excepções. se quiserem podem amamentar o tempo que quiserem, que se tiverem dificuldade podem procurar ajuda, que o leite materno é o alimento mais saudável e completo. Que amamentar é ainda mais do que alimentar e que não faz mal deixar o bebé procurar também conforto (agradeço do coração uma enfermeira chefe do hospital de S. João que esteve mais de meia hora connosco a insistir neste aspecto. Agradeço todas as enfermeiras que insistiram para esquecer a história dos 15 minutos de um lado e 15 do outro.)
Deixa-me triste que a indústria de leites artificiais, de chupetas e de biberons tenha feito e continue a fazer uma campanha tão forte que tenha descontinuado a sabedoria milenar que as mulheres sempre tiveram (e que continua a existir em algumas partes do mundo) de que o leite materno é o melhor alimento para os bebés e que é aconselhado exclusivamente até aos 6 meses e depois até aos 2 anos, no mínimo.
Prestes a chegar aos 6 meses de amamentação, o objectivo é agora prolongá-la enquanto continuar a ser do interesse das duas. A esta sensação de quem faz o que nos parece o mais natural... soma-se um sentimento de orgulho, que não precisava de existir mas que surge só pelo facto de se ter que ouvir tantas vozes desmotivantes.
Contudo, não fizemos tudo sozinhas e as pessoas a quem tenho que agradecer o apoio são, ironicamente, dois homens. Um, o melhor pai e companheiro nesta aventura, que esteve lá desde o primeiro minuto, que ao 2º dia chegava ao hospital a correr e ligeiramente atrasado porque tinha ido comprar uma almofada de amamentação antes mesmo de eu pedir, que vem sempre ver se estamos suficientemente cómodas, que foi incansável durante a fase em que esteve de licença e em que andou literalmente atrás de nós para poder ajudar nos momentos em que fosse necessário e que se divertiu a registar grande parte dos sítios onde paramos para mamar. O outro, o melhor sócio, que teve a coragem de começar um negócio com uma recém-mãe e que compreendeu sem medo, que o bebé seria a minha prioridade mas que ainda assim tudo seria possível. Que teve a eterna paciência para esperar à porta de casa porque nos atrasávamos quase sempre a sair, para aceitar que era preciso parar tudo porque havia um bebé com fome mais uma vez e porque encarou com naturalidade que muitas reuniões acontecessem com um bebé agarrado à mama - com decoradores, com arquitectos, no banco, no notário, no contabilista.
Devo-lhes termos conseguido chegar até aqui.
OBRIGADA!